A arquitetura da convivência: cidades caminháveis como foco do desenvolvimento urbano

A criatividade, em sua essência, está diretamente ligada à resolução de problemas. No vasto mercado de desenvolvimento urbano, que abrange a construção civil e a infraestrutura, a busca por soluções eficazes exige, além de experiência e repertório, conhecimento do negócio, o que significa, entre outros investimentos, a busca por referências. É por isso que participo das missões técnicas internacionais promovidas pela Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil. Recentemente, estivemos na Inglaterra, na Suécia e na Dinamarca e, em maio, conhecemos empreendimentos inovadores  na China. No ano passado, exploramos a Suíça, a Holanda e a Áustria, e em 2023 visitamos a Argentina e Portugal.

Em todos esses locais, a principal convergência que observei foi a mudança fundamental de paradigma: o foco passou a ser em empreendimentos voltados para as pessoas e não em veículos. Isso fica claro em projetos que enfatizam o conceito de walkability, desenhado para permitir que se caminhe o bairro inteiro a pé, em cerca de 15 minutos. O objetivo central é proporcionar qualidade de vida e bem-estar, incentivando o convívio e uma vida ao ar livre, funcionando como um refresco mental que afasta as pessoas da rotina acelerada.

Para alcançar esse nível de convivência, a área verde deixa de ser um percentual legal colocado no canto do empreendimento e passa a ser integrada à vida das pessoas. Observamos parques com água, fontes e minilagos, que trazem vida e paz. Em Copenhague, por exemplo, pude ver um pai e uma filha pescando em um laguinho em uma segunda-feira, reflexo de uma qualidade de vida excepcional. Isso exige o que chamo de “sacrifício inteligente”: os melhores locais do empreendimento devem ser destinados aos espaços de convívio, mesmo que isso signifique deixar de desenvolver lotes naquele lugar. Essa decisão estratégica agrega muito valor ao negócio, valorizando todo o empreendimento.

Os grandes escritórios de arquitetura e desenvolvedores internacionais são unânimes: é preciso incentivar as pessoas a irem para a rua. Na Argentina, o bairro planejado Nordelta me impressionou pela qualidade de vida, sendo um bairro aberto com muitas praças, quadras de tênis e futebol e as pessoas realmente usufruindo desses espaços. A segurança, que é uma preocupação constante, na verdade, aumenta quando as pessoas estão na rua, tornando a convivência um fator crucial para o sucesso do empreendimento.

Ao pensarmos em como o Brasil pode se inspirar nessas soluções que deram certo globalmente, devemos considerar que 85% da população brasileira sonha em ter uma casa. Casa é sinônimo de conforto e aconchego. Quando garantimos uma boa qualidade de vida e pensamos no morador, o empreendimento se valoriza, e não o contrário. A inovação que observamos lá fora pode e deve ser adaptada à nossa realidade. Na China, por exemplo, tive contato com Smart Cities, totalmente controladas por computador, monitorando tráfego e segurança com uma complexidade que nos faz parecer estar 50 anos atrás. Essa tecnologia, focada na automatização para a diminuição de assaltos e no controle de tráfego, já está rodando em algumas regiões do Brasil, como em Balneário Camboriú e Porto Belo, no sul do país. Nesses locais, vemos o uso de Wi-Fi nas praças e sistemas de controle de tráfego automatizados para auxiliar na segurança.

Outra solução importante que vem sendo aplicada é o paisagismo diferenciado, que antes era restrito a empreendimentos de alto padrão, sendo agora incorporado em projetos de padrão médio e econômico. A inclusão de esculturas e elementos de arte no meio do bairro também contribui para a beleza e o apreço pelo lugar. O desafio para o Brasil é utilizar essa criatividade para incentivar o convívio e a melhoria da qualidade de vida, garantindo que o desenvolvimento urbano seja, antes de tudo, humano. O segredo é fazer com que a qualidade de vida para as pessoas reverta em valorização do empreendimento, estabelecendo um ciclo positivo de sucesso.

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